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quarta-feira, 9 de março de 2011

Processo de Criação #14 - A Sentença Prevista

"O poeta oscilará entre as sentenças mal concebidas do crítico, e os arestos caprichosos da opinião; nenhuma luz, nenhum conselho, nada lhe mostrará o caminho que deve seguir, — e a morte próxima será o prêmio definitivo das suas fadigas e das suas lutas."

Trecho de Obra Completa de Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, vol. III, 1994.

http://jornale.com.br/wicca/wp-content/uploads/2010/10/poeta.jpg

sábado, 29 de janeiro de 2011

Processo de Criação #12 - O Clóvis

LENDA DE CLÓVIS, O BATE-BOLA
Na Itália do século dezessete, numa cidade chamada Veneza, existia um Carnaval onde as pessoas saíam com máscaras brancas e graciosas pelas ruas acompanhadas com suas fantasias. Naquela época só eram permitidas máscaras claras, porque as escuras eram consideradas como disfarces do demônio. Numa destas festas de Veneza, três adolescentes amigos resolveram sair mascarados: Luigi, Giovani e Pedro. Eles estavam tão empolgados com a festa que beberam demais e acabaram saindo da cidade em direção a um caminho repleto de sítios e fazendas. No meio daquela estrada, Giovani avistou algo estranho num chiqueiro de porcos e disse:
- Olhem, lá:
- Parece que existe um velhinho caído no meio dos porcos!
Os rapazes aproximaram-se do lugar e viram um idoso fantasiado de palhaço, sem máscara e sem maquiagem, caído no local. Então Luigi falou:
- Este ancião está tão bêbado que perdeu a máscara e enfiou-se no chiqueiro!
- Vamos dar um susto nele?!
Assim os jovens sufocaram o pobre velhinho contra a lama. De repente, Pedro exclamou:
- É melhor pararmos com isto!
- Pois acho que este homem morreu porque o pulso dele não dá mais sinal!
- Vamos embora daqui!
Após estas palavras os adolescentes saíram correndo e voltaram ao Carnaval de rua. No meio da festa Luigi comentou, para os amigos, apontando para uma pessoa:
- Olhem aquele homem perto do carro alegórico cor-de-rosa!
- Ele parece com o idoso que estava caído no chiqueiro. Só que agora ele veste uma máscara vermelha de diabo e carrega nas mãos uma bola feita de bexiga de porco.
Desta maneira o sujeito misterioso aproximou-se dos garotos e disse:
- I am Clown ...
- I am a Hell’s Clown!!!
Giovani pediu ao colega:
- Pedro, você que é inteligente, por favor traduza o que este homem está falando!
O companheiro respondeu:
- Eu creio que ele falou em Língua Inglesa. Mas, o problema é que não sei nenhuma palavra em Inglês.
- Acho que este ser falou que o nome dele é Clóvis!!!
Naquele mesmo segundo o palhaço misterioso jogou sua bexiga suína em direção a estes rapazes. Assim surgiu uma nuvem de fumaça branca e eles desapareceram. A multidão pensando que a mágica fazia parte do espetáculo aplaudiu o número.
A partir daquele dia, este ser misterioso, com sua máscara demoníaca acompanhada da sua bola de porco, passou a aparecer nas festas de rua do Carnaval de Veneza. Pouco a pouco as pessoas começaram a admirar o seu traje e por isto algumas passaram a se vestir igual a esta criatura nos bailes carnavalescos. Deste jeito esta fantasia passou a ser chamada de Clóvis, pois foi derivada da palavra Clown, que significa palhaço em Inglês. A tradição carnavalesca deste traje foi trazida, no século dezenove, pelos europeus ao Rio de Janeiro e dura até os dias atuais. As pessoas usam o traje de Clóvis pelas ruas com o objetivo de representar a alma do Palhaço assassinado que até hoje, procura pelos seus algozes na época carnavalesca.



CARNAVAL, BEXIGA, FUNK E SOMBRINHA

Duração:
63 minutos (1 hora e 3 minutos)
Gênero:
Documentário
Direção:
Marcus Vinícius Faustini
Ano:
País de origem:
BRASIL


Uma radiografia do trabalho feito pelos mais de 70 grupos de clóvis, ou bate-bolas, existentes na zona oeste  do Rio de Janeiro. Ao mesmotempo em que mantêm viva a tradição do Carnaval de rua, os gruposlevam às últimas consequências os preparativos  para a festa, que têminício 361 dias antes da saída dos blocos.












quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Processo de Criação #10 - Um ritual vazio e ineficaz

Um dos mitos mais comoventes e ambíguos da civilização ocidental fala de um homem que busca sua origem. No caminho para a sua identidade, mata o pai, gera filhos-irmãos com a mãe e leva a peste a toda uma população. Exila-se, vai-se solitário. Mas uma menina o segue. Alguns anos depois, quando ela retorna a sua cidade, tebanos chocam-se com tebanos. Irmãos divertem-se torturando irmãos. Crianças carregam armas; aprenderam a degolar. Violência e horror: Tebas é o coração das trevas.
Antígona toma uma posição perante a guerra civil, na qual seus irmãos se mataram mutuamente. Não defende seu tio Creonte e as leis do estado que ele representa. E não foge as colinas para unir-se ao exército de seu irmão em guerra contra o estado. Conhece o papel que escolheu e cumpre a ação que lhe permite ser leal a esse papel. Sai de noite e vai ao campo, pega um punhado de poeira e o espalha sobre o cadáver de seu irmão, ao qual Creonte negou a sepultura. Um ritual simbólico, vazio e ineficaz contra o horror, que ela cumpre por uma necessidade pessoal, pagando com a vida.
Este é o teatro: um ritual vazio e ineficaz que preenchemos com nossos “porquês”, com nossas necessidades pessoais. Que em alguns países do nosso planeta é celebrado na indiferença e que em outros pode custar a vida de quem o faz.

(BARBA, Eugenio;  A Canoa de Papel – Tratado de Antropologia Teatral. Pg137)

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

UM BOI VÊ OS HOMENS - Carlos Drummond de Andrade

Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço.E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos – e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Processo de Criação #07 - Das Glândulas Exócrinas que tem como função a produção de leite


  Vamos para o Sertão da Farinha Podre:  
  Estamos a 18° 55' 08" de latitude sul  
  48°16'37" longitude Oeste  
  e 776 m de altitude  



    Nesse lugar "Super, ultra, top" - do alemão Über estão as glândulas exócrinas que tem como função a produção de leite - presente nos mamíferos.    

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Processo de Criação Saga #06 - Dos Bois meu Boi

Procurando pelo meu Boi Interior, acabei encontrando o trabalho de uma artista chamada Crystal Thomas que cria mosaicos em crânio bovino. Essas imagens chegaram bem próximo do que imagino para a construção do meu boi, pensando no crânio do boi pintado de forma carnavalesca lembrando as máscaras de Clóvis que já pensamos em utilizar como proposta de figurino.

Vejam as imagens da obra dessa artista:





terça-feira, 2 de novembro de 2010

Processo de Criação Saga #05 - 30/11/2010

Musica... Instrumentos... um Trem.. pra onde vamos? Nos deparamos com uma "Chegança " em pleno Sertão...Um Trem Caipira com surdos, tamborins, patagonas, saxafone, caixas e trompete.. um cavaquim e um arcodión ...(ainda por vir)
Uma Vaca Profana cantada do agudo ao grave...
Uma Antígona...uma vaca profona...um touro.. um Creonte... e nós em cena...Saimos do lugar???Uma caminhada ou uma subida? Pra onde? Para um sorteio que direciona os atores....
Rumo a bois, rumo a farinha, a uma tourada, a uma lamentação....
Óculos, camisas na cara, cabeças de boi, espingardas de chumbo, o que mais???o que mais cabe???

Adriana Moreira

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Processo de Criação Saga #04 - Dos Dias que me parecem os primeiros

Sinto que engrenamos.
Depois de empurrar o carro ladeira acima, com tantos desvios, paradas para descanso, e ausência de uns e de outros, me parece que chegou o momento de deixá-lo descer na banguela para a esperada ignição[i] de nosso motor.
E vamos juntos em alta velocidade.
Muita coisa já se encaminha. Sabemos o rumo da corrida, mas ainda não onde vai dar. Ansiamos, vislumbramos paisagens, mas podemos ainda nos surpreender pelo devir, pela curva do vento, pelo subir da maré.
Na conjunção astral desses seres que nos guiam pela mão, no batuque, no canto, ou em professias dramatúrgicas e encenatórias, traçaremos nossa saga. Ainda à espera daquele que nos cobrirá com mantos ou farrapos e daquele que concretizará nossa paisagem cenográfica.
O que temos hoje é uma chegança sonora quem vem a trem em tom de sertaneja congada executada por banda marcial carnavalesca circense, seguida pela revolta da Vaca Profana Antigona, dona de divinas tetas, contra o tirano Touro Creonte de uma manada decadente, a expulsão dos bois da terra a mando do desenvolvimento da Grande Cidade, aquela que sempre muda de figurino, a princesa do triangulo, a mis sertão da farinha podre, a maravilha do cerrado, a serpente do paraíso, onde sucedeu a famosa história da paixão, morte e pseudo-ressurreição de um pobre João de Deus, poeta e relojoeiro, santificado pelos próprios matadores e elevado à categoria de milagreiro com asas de janelas que lhe pesam nas costas, e a vontade de desenterrar o resto de história que cabe a esse sertão esquecido, submerso num deserto de farinha podre.

Para sonhar e ser feliz:
Letra e vídeo da música Vaca Profana.
(Sefundissemos Lucas e Priscilla numa mesma pessoa qual seria o resultado? Lucas+Priscilla=Gal Costa [Diz que não!])


Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da man...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas

Segue a "movida Madrileña"
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks
Picassos movem-se por Londres
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horiz...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca de divinas tetas
La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los "puretas"

Quero que pinte um amor Bethânia
Stevie Wonder, andaluz
Como o que tive em Tel Aviv
Perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s blues
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca das divinas tetas
Teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas

Sou tímido e espalhafatoso
Torre traçada por Gaudi
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas, estamos aí
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas estamos a...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas

Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas...


[i] A Ignição é um dispositivo que inflame o fogo. Muitos dispositivos de ignição obtêm sua energia do poder humano dos músculos, mas outros usam a luz solar, a energia química, ou a eletricidade.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Processo de Criação Saga #03 - Desenterrar

Podemos "desenterrar" uma inocente vítima da ganância e disputa de grupos políticos em certa cidade do Brasil no final dos anos 50?








A primeira fase do projeto Saga... passa pela Antígona que, em nome dos laços de Sangue, desafia o poder do Estado. Poder organizado como o desejava Platão em sua República.

Mas de nada adianta expulsar os artistas da cidade ideal. Eles voltarão para desenterrar seus mortos, pois é preciso lembrar que “o diálogo com os mortos não deve ser interrompido até que desvelem o futuro que com eles foi enterrado" (Heiner Muller)




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Processo de Criação Saga #02 - O JULGAMENTO DE UM POETA




VOZ GRAVADA
No ano passado foi julgado na União Soviética o poeta Joseph Brodsky. Aqui estão trechos taquigráficos de seu julgamento.

(Acende-se a luz sobre Paulo e Vianna)

PAULO
Qual é seu nome?

VIANNA
Joseph Brodsky

PAULO
Qual é sua ocupação?

VIANNA
Escrevo poemas. Traduzo. Suponho que...

PAULO
Não interessa o que o senhor supõe. Fique em pé respeitosamente. Não se encoste na parede. Olhe para a corte. Responda com respeito. O senhor tem um trabalho regular?

VIANNA
Pensei que fosse um trabalho regular.

PAULO
Dê uma resposta precisa.

VIANNA
Eu escrevia poemas: julguei que seriam publicados. Supus...

PAULO
Não interessa o que o senhor supõe. Responda porque não trabalhava.

VIANNA
Eu trabalhava; eu escrevia poemas.

PAULO
Isso não interessa. Queremos saber a que instituição o senhor estava ligado.

VIANNA
Tinha contatos com uma editora.

PAULO
Há quanto tempo o senhor trabalha?

VIANNA
Tenho trabalhado arduamente.

PAULO
Ora, arduamente! Responda certo.

VIANNA
Cinco anos.

PAULO
Onde o senhor trabalhou?

VIANNA
Numa fábrica, em expedições geológicas...

PAULO
Quanto tempo trabalhou na fábrica?

VIANNA
Um ano.

PAULO
E qual é seu trabalho real?

VIANNA
Eu sou um poeta. E tradutor de poesia.

PAULO
Quem reconheceu o senhor como poeta e lhe deu um lugar entre eles?

VIANNA
Ninguém. E quem me deu um lugar entre a raça humana?

PAULO
O senhor aprendeu isso?

VIANNA
O quê?

PAULO
A ser poeta? Não tentou ir a uma universidade onde as pessoas são ensinadas, onde aprendem?

VIANNA
Não pensei que isso pudesse ser ensinado.

PAULO
Então como...?

VIANNA
Eu pensei que... por vontade de Deus...

PAULO
É possível ao senhor viver do dinheiro que ganha?

VIANNA
É possível. Desde que me prenderam sou assinado a assinar um documento, todos os dias, declarando que gastam comigo quarenta copeques. Eu ganhava mais do que isso por dia.

PAULO
O senhor não precisa de ternos, sapatos?

VIANNA
Eu tinha um terno. É velho, mas é um bom terno. Não preciso de outro.

PAULO
Os especialistas aprovaram seus poemas?

VIANNA
Sim, fui publicado na Antologia do Poetas Inéditos e fiz leituras de traduções para o polonês.

PAULO
Seria melhor, Brodsky, que explicasse à corte porque não trabalhava no intervalo de seus trabalhos.

VIANNA
Eu trabalhava. Eu escrevia poemas.

PAULO
Mas existem pessoas que trabalham em uma fábrica e escrevem poemas ao mesmo tempo. O que o impediu de fazer isso?

VIANNA
As pessoas não são iguais. Mesmo a cor dos olhos, dos cabelos... a expressão do rosto.

PAULO
Isso não é novidade. Qualquer criança sabe disso. Seria melhor que explicasse qual a sua contribuição para o movimento comunista.

VIANNA
A construção do comunismo não significa somente o trabalho do carpinteiro ou o cultivo do solo. Significa também o trabalho intelectual, o...

PAULO
Não interessam as palavras pomposas. Responda como pretende organizar suas atividades de trabalho no futuro.

VIANNA
Eu queria escrever poesia e traduzir. Mas se isso contraria a regra geral, arranjarei um trabalho... e escreverei poesia.

PAULO
O senhor tem algum pedido a fazer a corte?

VIANNA
Eu gostaria de saber porque fui preso.

PAULO
Isso não é um pedido; é uma pergunta.

VIANNA
Então não tenho nenhum pedido.

(As luzes se acendem sobre os dois, e um foco se acende sobre a atriz.)

TEREZA
Brodsky foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados, numa fazenda estatal de Arcangel, na função de carregador de estrume. O poeta tinha vinte e quatro anos.

(Escuridão)