Um dos mitos mais comoventes e ambíguos da civilização ocidental fala de um homem que busca sua origem. No caminho para a sua identidade, mata o pai, gera filhos-irmãos com a mãe e leva a peste a toda uma população. Exila-se, vai-se solitário. Mas uma menina o segue. Alguns anos depois, quando ela retorna a sua cidade, tebanos chocam-se com tebanos. Irmãos divertem-se torturando irmãos. Crianças carregam armas; aprenderam a degolar. Violência e horror: Tebas é o coração das trevas.
Antígona toma uma posição perante a guerra civil, na qual seus irmãos se mataram mutuamente. Não defende seu tio Creonte e as leis do estado que ele representa. E não foge as colinas para unir-se ao exército de seu irmão em guerra contra o estado. Conhece o papel que escolheu e cumpre a ação que lhe permite ser leal a esse papel. Sai de noite e vai ao campo, pega um punhado de poeira e o espalha sobre o cadáver de seu irmão, ao qual Creonte negou a sepultura. Um ritual simbólico, vazio e ineficaz contra o horror, que ela cumpre por uma necessidade pessoal, pagando com a vida.
Este é o teatro: um ritual vazio e ineficaz que preenchemos com nossos “porquês”, com nossas necessidades pessoais. Que em alguns países do nosso planeta é celebrado na indiferença e que em outros pode custar a vida de quem o faz.
(BARBA, Eugenio; A Canoa de Papel – Tratado de Antropologia Teatral. Pg137)
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Um comentário:
muito massa esse blog! acabei de ler dois trechos aqui que me pegaram de jeito, esse do Barba e ou outro do Carlos Rodrigues Brandão...
Que bom topar com isso! ^^
energias boas procês.
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