segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Memorial de Silêncio e Margaridas


Memorial de Silêncios e Margaridas, unipersonal de Narciso Telles, aciona como material de composição os escritos de Eduardo Galeano e narrativas de torturados e torturadores dos anos de chumbo no Brasil. O espetáculo reconstrói a memória social deste período histórico, evocando vozes e silêncios. (Narciso Telles)

Em um passado ainda recente, foram instaurados regimes ditatoriais de governo, em diversos países latinoamericanos, onde as vozes dissidentes eram caladas com muita dor, crueldade e sofrimento. A dramaturgia de Memorial de Silêncios e Margaridas é uma busca dos sentimentos humanos em meio a histórias de pessoas impedidas das coisas mais simples de seus cotidianos e, de outras tão importantes como amar e sonhar. Partimos de narrativas e silêncios das pessoas, das suas músicas, das leituras de Eduardo Galeano, de Frei Beto, de visitas ao Memorial da Resistência, no antigo prédio do DEOPS, e muitas outras investigações, na tentativa de desvelar algumas marcas dos sobreviventes, dos mutilados e queimados, mas também daqueles que estavam do outro lado, daqueles que tiveram prazer em produzir rostos sem traços, em arrancar jovens de suas casas para jogá-los depois em terrenos baldios, em sepulturas clandestinas ou até no mar. Procuramos apenas falar um pouco desses seres humanos, não no sentido da rememoração de suas dores, mas para que não esqueçamos nunca que algo aconteceu e de como poderia ter sido diferente!  (Luiz Leite)

Narciso me convidou para participar de um solo a três, para compartilhar as memórias desse processo e ser seu olhar distanciado, de fora, na medida do possível.  O processo de criação privilegiou diversas memórias: individuais e coletivas sobre um momento histórico recente que se prefere silenciar.  Pensou-se a cena como um memorial daquilo que não queremos que seja esquecido. Não porque queremos ficar presos ao passado, mas porque somente podemos esquecer aquilo que é lembrado e transformado, porque não queremos que esses atos se repitam. Meu foco foi privilegiar as associações que Narciso fazia com essas memórias que não foram vivenciadas por ele, mas que povoam nosso imaginário. Não quisemos representar a dor e o horror dessas experiências, mas criar um memorial para reflexão. (Mara Leal)

Duração:  40 min.

Ficha Técnica
Direção: Mara Leal
Atuação: Narciso Telles
Dramaturgia: Luiz Carlos Leite & Narciso Telles
Orientação vocal: Dirce Helena de Carvalho
Iluminação: Camila Barbosa Tiago
Figurinos: Mara Leal & Cátia Vianna
Sonoplastia: Cesar Lignelli & Narciso Telles
Cenografia: Emiliano Freitas
Adereços: Lucas Dilan
Operação de Luz e som: Coletivo Teatro da Margem
Costureira: Mao Minillo
Produção: Coletivo Teatro da Margem

Agradecimentos: Tiago Pimentel, Leon de Vasconcellos Telles da Silva, Vilma Campos Leite, Fernando Aleixo, Elisa Vilela, Alex Dorjó, Regina Aparecida Moraes, Coletivo Teatro da Margem, Laboratório de Interpretação/Encenação (LIE), Curso de Teatro/UFU, Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz,Trupe de Truões, Associação de Teatro de Uberlândia (ATU), Instituto de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes, Universidade Federal de Uberlândia e a todos os novos e velhos parceiros que nos ajudaram neste processo.  

domingo, 14 de agosto de 2011

As Bordadeiras de Santiago




" Algumas tecelãs ao bordarem seus problemas descobrem que eles são feios.Nesse momento passam juntas a desvelar histórias e memórias da condição das mulheres latino-americanas .”
Espetáculo tecido a partir de contos e Eduardo Galeano


Em um tempo não muito distante, em um lugar chamado América Latina, alguns generais se acharam no direito de decidir quem deveria viver ou morrer! A ausência de um filho, irmão, amiga, professora, colega de sala ou qualquer outra pessoa amada, indicava a possibilidade de uma vida interrompida, de um futuro que não se realizaria, ou no mínimo seria diferente, carregando marcas de dor e sofrimento. Mas, também reclamar a quem se amava era proibido. Era uma vez...  Mães, esposas, filhas e irmãs  se  reuniam para falar de seu silêncio, de suas dores e, enganaram os tais generais, pois apesar de proibidas, bordavam  em simples sacos de estopas com linhas, papéis e flores essas dores e, revelaram ao mundo o que os portadores de medalhas banhadas em sangue não puderam entender.
A proposta do espetáculo As bordadeiras de Santiago é a de reunir três mulheres a bordarem suas histórias. A dor verdadeira, somente a essas bravas mulheres pertence de verdade!


Este projeto foi contemplado pelo Programa de bolsas de Iniciação Artística (DICULT/PROEX/UFU​) e está vinculado ao projeto de pesquisa: "Aprender a aprender: Os Viewpoints como procedimento de criação e jogo”.

Realização: Núcleo 2- Coletivo Teatro da Margem
Direção: Narciso Telles
Assistente de direção : Marcella Prado
Dramaturgia: Luis Leite

Elenco: Aline Jorge
Eluhara Resende
Thábatta Nayara

sábado, 13 de agosto de 2011

fragmentos de As bordadeiras de santiago...



...se falar disso era também crime e proibição, a dor pela espera da chegada de quem era muito aguardado não podia ser roubado, mesmo ao imaginar as dores e sofrimentos
incrustada na alma. Neste lugar, a fome é a companheira do meu povo. Sei muito bem o que é isso!
A mesma terra que nos oferece o alimento,enterra nossos mortos...enterrou meu pai..e enterrou também aquele que seria meu marido,a quem eu tanto amava..e tantos outros poetas e cantores.. O tempo da minha vida está se acabando e, com ele a esperança de ter um filho vindo do meu próprio ventre.
xxxxx é o meu nome e fiz votos de pobreza, castidade e obediência,.Mesmo assim sou mãe de muitos filhos...
Nessa saia trago as minhas historias e as histórias dos outros.Mas elas insistem em se misturar...
Eu acho que é porque quase todas elas também têm fome... e tem a guerra e a maldita revolução que já enterrou tanta gente...
Quando era criança e tinha fome, mamãe dizia para sentirmos o cheiro das flores, para cantarmos e ..cantávamos e cheirávamos as flores...ainda sinto fome..ainda sinto o cheiro das flores...
Acho que eu já não tenho mais medo da revolução..somente ódio! Não sei se essa lembrança é minha.
Me chamam de a mãe dos pobres e só queria que a terra me enterrasse lentamente..docemente..só queria que demorasse um pouco mais,que houvesse tempo de eu ver um dia,um só dia nessa vida em que não houvesse dor,que não houvesse fome e que as pessoas não morressem por cantar a vida!
Daí ela poderia me guardar para sempre!

Elhuara, Aline e Tábata:
Com amor a vocês, está ai o fragmento do que o Eduardo Galeano nos disse, do que o Narciso projetou, do que eu acredito e, principalmente do que nossas mulheres latinas viveram e VIVEM ! Sintam o cheiro das flores
Luiz Carlos Leite

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Viewpoints em BH


Entre os dias 28 e 31 de julho estive [eu, Samuel Giacomelli] em Belo Horizonte participando do Workshop Os Viewpoints ministrado por Miriam Rinaldi (SP), que é atriz, formada pela EAD, Mestre em Artes Cênicas CAC/ECA/USP, professora do curso de Artes do Corpo da PUC-SP, atuou por mais de 10 anos no Teatro da Vertigem, e atualmente tem se dedicado ao estudo da técnica de Viewpoints/ Composição.


O curso aconteceu no Teatro Espanca! e levantou questões relativas à composição e ao ‘estar em cena’, que permearam nossas práticas e discussões durante esses quatro dias nesse curso focado nos nove viewpoints físicos de Anne Bogart (velocidade, duração, resposta k., repetição, topografia, arquitetura, espaço relacional, gesto e forma). Cada encontro esteve dividido em 3 fases subseqüentes: aquecimento, raias e sessões de viewpoints livre [open viewpoints].


Além da prática, de poder conhecer novas perspectivas sobre os VPs e da possibilidade de refletir sobre, e reciclar, meu trabalho atoral, pude tomar contato com a Miriam fortalecendo uma ligação que já existia pelo diálogo com pessoas de São Paulo que trabalham com os Vps, como a Luah Guimarães, na perspectiva de criação de alguns encontros sobre os Vps, e a possível vinda de Anne Bogart para o Brasil. E por último, mas não menos importante pude retomar o contato com o Grupo Espanca!, rever os amigos já conhecidos, e conhecer os novos amigos, antes desconhecidos, conhecer o espaço do grupo e sua maneira de se organizar, rever o espetáculo Congresso Internacional do Medo em duas belíssimas apresentações no Galpão Cine Horto, e ainda ter o privilégio de ajudar na desmontagem [RS].


Pra Constar, uma boa nova foi saber que a próxima montagem do Espanca! será nada mais nada menos o Líquido Táctil de Daniel Veronese, texto que já faz parte da história do CTM – segue algumas fotos da leitura dramática que fizemos da obra:




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